Sim, havia. E uma delas era na transmissão de títulos. Quer saber mais? Leia abaixo!
Olá, pessoal!
Recentemente foi levantada uma pergunta no meu grupo do Whatsapp, e a achei muito pertinente: como podia um duque deixar como legado um ducado para o filho mais velho, e um condado para o mais novo? Na minha história isso acontece, e causou certa estranheza. Por isso, quis falar um pouquinho sobre a diferença entre as nobrezas alemã e inglesa, já que a maioria dos romances de época que lemos se passa na Inglaterra.
Nos livros de época que costumamos ler, apenas o filho mais velho possui direitos sobre o título. Só que na Alemanha não era incomum que os nobres "presenteassem"seus filhos mais jovens com títulos altos, e há um motivo para isso.
A diferença entre as nobrezas
A nobreza alemã e a inglesa diferenciavam-se não apenas em seu caráter, como na própria composição, evolução, tradição e influência. Vou listar abaixo algumas diferenças essenciais:
Percepção social
A aristocracia inglesa costumava ser muito mais bem vista em seus país do que a nobreza era vista na Alemanha (um fato que explica, talvez, por que a Inglaterra até hoje a mantenha). A aristocracia alemã, segundo encontrei nesse site, sofria de uma certa miopia quanto ao seu lugar. Ela era egoísta, bem menos interessada no bem comum do que em manter seus próprios privilégios. Na ânsia de reter suas vantagens, mostrava-se insensível ao povo, e, por isso, era mal vista.
Já o povo inglês, além de ser mais próxima do povo (ali embaixo isso é explicado melhor), aceitava melhor sua aristocracia. Além do mais, o povo inglês a encarava como um freio às pretensões da realeza. O povo alemão, por sua vez, considerava sua aristocracia o próprio símbolo da realeza.
Progenitura
Havia também a questão da primogenitura, importantíssima para o poder aristocrático inglês. Na Inglaterra, o título era reservado ao filho mais velho, que herdava a maior parte da propriedade. Assim, um título inglês geralmente significava a posse de um grande pedaço de terra, enquanto um título alemão significava, na maioria dos casos, nada mais que uma descendência de alguém que, no passado, possuiu muitas terras e poder.
A aristocracia inglesa vivia em suas propriedades no interior e lá formavam centros de vida social e política. Já na Alemanha, a pequena porcentagem da aristocracia alemã que vivia no interior, mesmo que rica, levava uma vida de solidão e estagnação intelectual. Não exercia influência social nem política nas regiões de seus títulos.
Casamento
Segundo achei no site acima, o costume real de se casar apenas com iguais, originalmente concebido para fins políticos, foi levado ao extremo na Alemanha, sem qualquer desculpa ou pretensão política. Isso acabou tendo conseqüências desastrosas em muitos sentidos para a aristocracia do país. Casando-se entre eles, desde o mais simples baronete ao mais rico dos imperadores, a aristocracia alemã acabou construindo uma barreira intransponível (e bastante pedante) entre nobres e não nobres, o que acabou afastando-a do nascimento do intelecto e da classe média muito mais do que em outros países.
Na Inglaterra, por outro lado, a aristocracia era constantemente fortalecida pela admissão de novos membros, diferenciando-se da fechada oligarquia alemã. Enquanto os ramos mais jovens e sem título de uma grande casa inglesa voltavam-se à comunidade, carregando para a classe média suas simpatias e suas poderosas relações, “o sistema alemão tinha o efeito oposto. Cada descendente de uma família nobre herdava o título, o status social e a obrigação de se casar de acordo com sua posição. Isso ergueu uma barreira entre eles e os sem-título, que provou ser desastroso em seus resultados.”
Em outras palavras, os mais jovens das famílias da nobreza inglesa envolviam-se com a classe média, e faziam negócios com esta. Eram, por isso, bem mais bem vistos que a aristocracia alemã, inteiramente separada do povo.
Sendo assim, era compreensível que a aristocracia alemã, ao passar adiante seus títulos, temesse transformar seus familiares em cidadãos comuns, e dessem um certo jeitinho de nomeá-los com títulos diversos.
Um Exemplo em Württemberg
Quando comecei minhas pesquisas sobre a família ducal que usaria no livro Lady Trapaça, procurei saber quem eram os antigos regentes daquela terra. Foi assim que encontrei o duque Friedrich Eugen, duque de Württemberg. Ele, por exemplo, é um dos regentes que passou o título de conde a um filho mais jovem, e um outro filho, também mais jovem, ganhou um ducado.
Quem foi Friedrich Eugen, duque de Württemberg
Quarto filho de Karl Alexander, duque de Württemberg, Friedrich Eugen nasceu em Stuttgart e reinou de 1795 a 1797 como duque. Ele casou-se com Friederike Sophia Dorothea, sobrinha de Frederico, o Grande, e teve doze (!) filhos:
Frederico I , seu sucessor ( ancestral de Boris Johnson, atual primeiro ministro inglês), cujo retrato está aí em cima;
Louis, comandante do exército do Grão-Ducado da Lituânia (e antepassado da rainha Elisabeth);
Eugene;
Sophie Dorothea (que se tornou mãe de Nicolau I, czar russo);
William Frederick Philip, pai de Guilherme, 1º duque de Urach;
Ferdinand Frederick Augustus;
Friederike Elisabeth Amalie;
Elisabeth Wilhelmine Luise;
Friederike Wilhelmine Katharina;
Charles Frederick Henry;
Alexander Frederick Charles, fundador do quinto ramo de Württemberg, ao qual pertence hoje o duque atual, Carl Maria de Württemberg);
Charles Henry, Conde de Sontheim
Se essa fosse a constituição de uma família na Inglaterra, haveria sete homens sem título na família. Desses, dois morreram jovens (um quando bebê e o outro, aos vinte e poucos anos), mas ainda assim haveria cinco outros herdeiros. Como a progenitura se diferenciava da Inglaterra, note que o quinto filho, Wilhelm, foi proclamado duque de Urach em 28 de março de 1867, fundando um novo ramo no ducado e, segundo a Wikipedia, "mantendo o título de Conde de Württemberg quando iniciou o quinto ramo ducal da família".
Espero que tenham gostado!
Até a próxima!
Karina
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